7 de agosto de 2009

O "meu" Algarve.






O "meu" Algarve não é o da Oura ou Praia da Rocha, de Vilamoura ou Areias de S. João, do Ancão ou da Galé. O meu Algarve, sem aspas, não tem nada a ver com praias lotadas de tias ou tios acorrentados a ouro e de BlackBerries no areal nem com os respetivos sobrinhos que de tão formatados já parecem ter caras de adulto mesmo que apenas contabilizem 7 ou 8 anos no BI. O meu Algarve não tem festas glamourosas onde os convidados têm os dentes mais branqueados que Camarate e onde se acotovelam para ganhar alguns centímetros quadrados de notoriedade pífia nos pasquins cor-de-rosa ou para pontificarem nas colunas dos Carlos Castros da vida. O meu Algarve não tem jipes com a maquineta da Via Verde estacionados à lei de quem tem fome em cima dos passeios. O meu Algarve existe 12 meses por ano e não se reduz a um par de semanas em Agosto em busca frenética de flashes, festas brancas ou tratar os amigos usando a terceira pessoa e acrescentando um "ç" depois de cada "t" como parece ser chique agora (Já repararam como se diz "olá, tçá bom? Entção e a família, tçudo bem?"?)

O meu Algarve é genuíno e é feito de lodo e sal, de amêijoas e chibas, de tarte de alfarroba e D. Rodrigo. O meu Algarve é minis no Zé Maria e galo caseiro à do Sr. Cavaco em Sta. Catarina da Fonte do Bispo. O meu Algarve é Manta Rota há 10 anos atrás e Ilha de Tavira by night. O meu Algarve é catar conquilhas na Ilha do Farol e ir ao lingueirão com aderiças no parchal em frente ao Aeroporto. O meu Algarve é carraspanas de medronho em Salir ou Monchique e cabazadas de perceves em Odeceixe. O meu Algarve é Fuzeta e Faro, Olhão e Tavira, V.R.S. António e Aljezur.

Já corri essas capelinhas todas, essas que aparecem sempre nas revistas de Agosto. Conheci a Manta Rota antes do Manta Beach, bati aquela praia toda da Lota a Cacela a caçar medusas com o meu irmão Ricardo, a Natacha e a Maria João Belchior*, putos nesse tempo, ainda aquilo era um sítio civilizado onde se podia fazer praia e efetivamente descansar. Fugi atrás de tantas ou mais "bifas" na Praia da Rocha do que o outro parvo e nem por isso me bazofiei em público (o tal cão que não ladra) ainda aquilo tinha Sachs em vez de Sashas. Palmilhei toda Albufeira desde o extinto IRS até S. Gabriel, fazia os 10.000 metros entre o Vegas e o Atrium na rua dos bares, faturei no Alabastro, Kadoc, Locomia, irlandesas, holandesas, alemãs mais IVA ainda não havia a Via do Infante. Persegui o calendário de Festas da Espuma, do Esferovite, do que houvésse a jorrar do céu e que pusésse as miúdas malucas.

Detesto o Algarve em Agosto por ser a altura do ano em que a minha região é menos genuína. Hordas mediáticas demandam o Sul para se bronzearem (lá têm uma oportunidade por ano de excitarem a melanina sem ser naqueles grelhadores dos Hea(l)th Centers a que chamam solários) e para gritarem ao telemóvel "Está lá? Francisco? Olhe, pá! Você nem imagina onde eu estou!" enquanto esperam por um peixe grelhado. O Algarve torna-se uma caricatura, uma Cuba no tempo de Fulgêncio Batista, um bordel de vaidades, uma passerelle de Lagos a Almancil (felizmente que em Faro ninguém mete o bedelho) onde se diz que se está no "Ógarve" sem que se entenda minimamente que o Algarve não é nada disso.

Eu próprio, como algarvio, questiono-me sobre esta coisa do Allgarve. Um Algarve for all, mesmo os que vivem no Poortugal ou um fedorento alcouce de futilidades para onde o resto do país voyeur olha com indigência? O tal Algarve que é a 2ª região mais produtiva de toda a Nação (atrás de Lisboa e Vale do Tejo) e que só recebe migalhas do Orçamento como investimento público? Ou o Algarve que andou a gemer anos e anos para que a A2 chegásse finalmente cá? Ou mesmo aquele Algarve que demora algumas 3 horas para ir de Lagos a Vila Real de comboio? Se calhar é o Algarve que os algarvios merecem por terem votado "Não" no referendo de 98...

Agora que estamos em pré-campanha para as legislativas, sugiro um imposto turístico tal como existe na República Dominicana: O turista bate o passaporte ali nas portagens de Paderne e largam-se 100 euros por pessoa, com óbvia isenção de taxa aos residentes. Ficava o Algarve mais filtrado de impurezas provenientes de a norte de Setúbal e nem por isso menos prejudicado financeiramente. Para gente abjeta preferimos os "camónes", esses ao menos deixam uma pipa de massa na região.

Estas são as palavras do Misha e foram retiradas do seu blog. Delas nada mais acrescento pois quem é Algarvio sabe bem que nada do que aqui está escrito é mentira.

PS: È maravilhoso poder viver na terra onde os outros passam férias uma vez por ano :P

8 comentários:

  1. obrigado pela repercussão. realmente, esta merda anda mesmo a precisar duma revoltazinha q:)

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  2. Misha, falas que detestas o Algarve em Agosto mas lá comias as holandesas e inglesas todas!! Gostas pouco gostas hehe.

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  3. PS: "Notoriedade pífia nos pasquins cor-de-rosa?" bem me parecia que era muito palavreado para o nel!!

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  4. YAAAAAA!!!!!!!Foi o que eu pensei! Pensei também que o nel se tinha passado de vez!!! LOL Misha.... Parabéns.... Quase chorei ao sentir o nosso Algarve nas tuas palavras =) Obrigada

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  5. Eu cá adoro o Algarve em todos os meses, não me estou cá a importar se agosto é o mês da "balburdia" por assim dizendo.
    Nos atém nem nos podemos queixar muito o pouco que eles gastam ja nos serve e bastante!
    Se não fossem eles os restaurantes mais caros, os centros comerciais,bares e entre outros não lucravam tanto.
    Acrescentando que são pessoas por vezes mais gentis que os próprios portugueses..Com a vinda dos estrangeiros traz-se mais vida e novos conheçimentos porquê reclamar?há questões melhores para haver revolta..!

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  6. Adorei! É o que sempre digo a todos: sintam bem o privilégio de passar todo o ano num sítio onde milhares de pessoas poupam p'ra ter uma ou duas semanitas só.

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  7. Após 27.000 posts de ausência, volto para comentar alguma coisa aqui no blog griséu.

    Ao que foi referido só uma coisa tenho a dizer: ainda tenho esperança de ver o Algarve independente!!!

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