5 de agosto de 2015

Uma breve historia do rapazinho do Bairro dos Indios


Sempre fui fininho.

Entrei para os Escoteiros (quem diria!) com os meus irmãos mais velhos, tinha eu 5 anos. A minha vida social animou.

Íamos a acampamentos, e o meu bando de 'lobitos' era altamente. 
Teria sido melhor se na altura pudéssemos beber álcool, mas não entremos por aí.

Entrei na escola primaria e, com alguma dificuldade, adaptei-me a este novo ambiente. O pessoal andava aos grupinhos, mas o pessoal do bairro estava sempre junto. Tive os meus primeiros 'melhores amigos'. O Tiago, o Roberto, o Zé Paulo, a Raquel (uma 'outsider', não era do bairro, mas era fixe), a Telma, a Joana...

Acho que a Raquel foi a minha primeira crush... Ah belos tempos.

Nos intervalos jogávamos ao 'Espita' e ao 'Jogo da Carica', não haviam cá 'Candy Crush' ou 'Angry Birds'. 
O 'Espita', em modo resumido, consistia em espetar uma chave de fendas em terra molhada. 
E tínhamos a maior diversão do mundo!

Tive uma professora na segunda e terceira classe que me marcou. A professora Felisbela. Era uma fixe. Uma vez desferi um golpe num olho dum chico esperto e ela não chamou o meu pai. 
O gajo pelos vistos não aprendeu, porque ainda hoje tem a mania que é esperto.

Eventualmente cheguei ao Ciclo. Nesta altura já havia aquela pressão para ver quem tinha as sapatilhas mais fixes de marca. 
Claramente não me adaptei. Sempre fui pobre.

Mantive contacto com os amigos da escola primaria, mas agora apenas no Bairro. Cedo, fiz mais amigos.

Aqui o ambiente era completamente diferente. Haviam os grupinhos, mas diferentes. Muito mais selectivos. Eram no máximo 3 grupos: os 'cool', os 'nerds' e finalmente os 'pobres'. 
Os 'cool' eram duma raça nojenta, que gostavam de se mostrar e fazer os 'nerds' e os 'pobres' sentirem-se mal para gozo do seu grupinho. 
Sobrevivi. E foi nessa escola que vi as primeiras mamas e dei um beijo numa bela garina!

Fiquei mestre no Ping-pong, mas os Reis eram o 'Rascasso' e o Sandro. Havia pessoal que queria chegar ao fim dos torneios só para ter a honra de perder com estas divindades do Ping-pong.

Tinha 11 anos quando comecei a jogar andebol. Gosto de pensar que era bom naquilo. Pelo menos nas camadas mais jovens. 
O melhor eram mesmo as viagens pelo País. Os torneios. Outro grupo de amigos. Belos, belíssimos tempos.

Aos 15 anos, entrei para a Secundaria.

Aqui já com uma maturidade diferente, mas mesmo assim, ambiente estranho. 
Porem, já me foi mais fácil fazer amigos que não fossem do Bairro. 
Foi também nesta fase que comecei a fazer amizades que duram ate aos dias de hoje. Tive a minha primeira namorada. 
Já se faziam jantares de anos em restaurantes, coisa impensável nas anteriores escolas :) 
Fiquei mestre nos matraquilhos.

Foi entre Ciclo e Secundaria, que descobri a má vida. 

Nesta altura já acampava no Farol como um homenzinho. 
Já era campeão a mandar sms e toques as gajas. Não sei se a juventude de hoje se apercebe da importância e pesada carga emocional de mandar e/ou receber um toque. 
Hoje tem o Tinder e cenas dessas.

Entrei na Universidade. Gestão Hoteleira foi o que escolhi. 
Arrependo-me, e não me arrependo.

Acho que foi na Universidade que melhor me adaptei. Talvez por andar sempre bêbado e toda a gente era minha amiga. 
Mas gosto de pensar que era por ter desenvolvido uma personalidade para um padrão mais aceitável em ambientes sociais.

Trabalhei na Worten em part-time para poder estar na Universidade. 
Quando comecei a trabalhar mais a serio, paguei a minha carta e o meu carro. 
E os meus vícios.

Hoje estou em Londres, uma das melhores cidades do Mundo. 
Tenho um alto cargo num dos melhores 'boutique' hotéis de Londres, parte dum dos mais exclusivos grupos hoteleiros do Mundo.

Sempre fui sentimental, e quase sempre chorei quando tinha vontade. Sem medo de parecer um mariquinhas.

Nunca fui ingrato. Sempre fui humilde.

Tudo o que sou hoje, devo ao meu Pai.


Sempre fui fininho.

O rapazinho do Bairro dos Índios.
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