7 de abril de 2011

Toma lá um set-aside nos tomates

Estou revoltado.
Revoltado porque estamos entregues aos porcos (porcos orwellianos, para quem notou a referência).
Hoje em pesquisas para tentar descobrir porque é que Portugal deixou de explorar milhares de hectares de terrenos agricolas cheguei ao programa 'SET-ASIDE', que em português é como quem diz pousio.
O programa Set-aside, segundo a wikipédia, foi criado como uma medida política pela União Europeia em 1988 para ajudar a reduzir os custos da produção excedentária na Europa.

Descobri este programa 'Set-aside' num documento que fala sobre a Política Agrícola Comum  (PAC, não confundir com PEC), e que nos explica o seguinte:


Set-aside – Consiste em deixar em pousio cerca de 15% da área das explorações agrícolas que produzem mais de 92 toneladas por ano.

Objectivo: redução dos produtos excedentes.

Implicações da norma no sector dos cereais: impediu os agricultores portugueses de produzirem certos cereais de forma a não concretizarmos o nosso objectivo que  consistia em desenvolver a agricultura, principalmente no Alentejo.




Ou seja, a União Europeia pagou-nos (a mim não, mas a alguém...) um prémio para deixarmos de explorar terrenos agrícolas que na perspetiva da UE, cria produtividade excedentária, porque na Europa já não seria preciso tanta produção. E como tal, pagam-nos para deixarmos de criar produção soberana.
O que acontece é que enquanto esses terrenos estão parados, a procura aumentou e hoje em dia importamos quase tudo do estrangeiro em vez de produzirmos nossos.
Ora, se não produzimos produto para nós, temos de importar dos vizinhos europeus e assim criar mais dívida.

Mas o que estou a dizer não é novidade.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em 2006, criou um documento que pode ser visto aqui, em que avisam:
Estes últimos 20 anos foram pautados por políticas agrícolas nacionais onde sobressai:
Uma afectação de recursos financeiros socialmente distorcida, centrada nos sectores de grandes áreas e explorações (cereais/arvenses, carne em regime extensivo, set-aside/pousio a receber sem nada produzir, etc.).
Veio a Reforma da PAC em 1992 e tudo se começou a alterar, PARA PIOR :
- Diminuição dos Preços ao Produtor, [...], pagar para não se produzir, (o tristemente famoso set-aside).
VINTE ANOS DEPOIS E APÓS 30 000 MILHÕES DE EUROS GASTOS EM NOME DA AGRICULTURA:
# Temos menos explorações e menos Agricultores
# Temos 150.000 hectares (com tendência a aumentar) improdutivos, em Pousio/Set aside.
# Vimos diminuir a nossa Soberania Alimentar e aumentar o déficit da Balança Agro-Alimentar.

A Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) também avisou:
Finalmente chama-se a atenção para o aumento significativo das áreas em set-aside, que em 2002 atingiu cerca de 22% da área total.


Mesmo sem considerar o set-aside, Portugal tem hoje 2 milhões de hectares de terreno ao abandono, que poderia ser explorado para benefício nacional.


Hoje em dia quando vamos às compras, mais de metade dos produtos alimentares disponíveis são de origem estrangeira, contribuindo assim para as economias estrangeiras e prejudicando a nossa. Como é que poderiamos algum dia recuperar a dívida se nos limitamos a gastar dinheiro importando produtos, quando deviamos era produzir cá para exportar?


Deixo as perguntas no ar: 
Para onde terão ido parar estes prémios?

Quem serão os responsavéis, ou seja, quem serão os PACmans?
Nós cá não sabemos, mas provavelmente serão parecidos à personagem do jogo, só querem é enfardar.


6 comentários:

  1. boa grisséu não percebo mesmo nada de ingricola mas percebo a tua mensagem.
    na pesca foi mais d mesmo e assim sendo o 3º pais que mais consome peixe no MUNDO,por habitante.abatemos barcos e importamos 75% do peixe que consumimos. daí a razão do endividamento externo pois não produzimos quase nada.

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  2. Precisamente isso, amigo Floripes.
    Enquanto não deixarmos de importar em vez de recomeçarmos a explorar o que é nosso para voltar a criar produção, nem tão cedo vamos sair do buraco!

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  3. Porque motivo só o governo não vê isso??????
    Serão lerdos?????????
    Ou não podem fazer nada pois as ordens de Bruxelas?
    Foi mesmo acabar a nossa produçao, para depender da França da Alemanha e da Espanha?
    Essa é a verdade, que nos tentam esconder,mas que tem de ser dita,pois por mais medidas de austeridade que tomem se não produzirmos, para consumir vamos ter de importar,e assim vamos sempre à falência.

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  4. Já venho tarde, mas jogo aqui mais um toro de madeira para a fogueira: tirando esses terrenos em regime set-aside, grande parte dos terrenos agrícolas está alugado a grandes produtores estrangeiros! Um exemplo: a coisa de um mês vinha a caminho do Algarve e no meio do Alentejo vi uma enorme olival. Vim a saber depois que esse e muitos outros na zona de Moura foram alugados por produtores espanhóis que os exploram. Ora na prática a produção nacional vai para fora e depois vamos importar o azeite já feito (isto quando temos o melhor azeite do mundo)!

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  5. Eu sou filho de gente pobre e camponesa que sempre trabalhou de sol a sol em troca dum salário de miséria.Eu,de agricultura não entendo nada e desde 1964 que estou imigrado na Holanda e hoje com 87 anos,por aqui vou ficando até que a morte chegue.Da minha terra natal só tenho saudades dos montes,dos vales e do Mar visto à distância,e também de familiares que lá vivem.Mas aqui deixo o meu desabafo.
    A Pátria-Mãe p'ra mim madrasta,
    empurrou-me p'rà emigração.
    Maldita seja a Governação,
    que Portugal p'rà miséria arrasta.

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  6. A mais pura das verdades, pois este é belo sistema que temos implementado no nosso pais, é só "Lobby´s"

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